domingo, 11 de setembro de 2011

Deixa ir toda dor

Ontem eu chorei todas as mágoas que eu não soube curar. Em mim doeram partes – aqui dentro tal como faca cortando minha carne – e doeu em mais tudo que meus olhos pudessem alcançar. Doeu como se me rasgasse por dentro, beirando ao insuportável – nunca tinha visto algo tão forte, tenho que confessar. Mais forte que o amor, até. Mais forte que a própria paixão foi a dor de perdê-la, de ver navegar longe esse sonho colorido de amor-companheirismo-felizes-para-sempre. Peguei minha ilusão mais bonita e joguei na fogueira – e foi queimando tudo por dentro, todas as palavras doloridas até a última lembrança feliz, para que em mim nada mais restasse além de uma lágrima solitária e teimosa que escorria pelo meu rosto ainda pela manhã. Nem meu café amargo e nem a janela embaçada me fariam esquecer a pior noite de todas – a noite do rasga fora, do “esqueça de uma vez por todas”. Eu sairia pela manhã fria e chuvosa de janeiro como em qualquer outros desses sábados que costumavam ser felizes e hoje – e, garanto, só por hoje – ia carregar esse luto pesado, esses resto de amor infeliz, o cheiro de abandono que impregna mais que os cigarros que traguei. E eu não poderia esconder dos demais, ainda mais de mim, que eu sou a prova viva que nem tudo que machuca, mata – que amor não é sinônimo de tortura e que acabar com tudo pode ser difícil, mas a manhã fria do outro dia já não será um peso tão grande quando o maior peso de todos foi posto fora. A mim, afinal, parece uma troca justa: duas doses de desapego, uma de indiferença e todo o amor do mundo em troca de um pouco de paz comigo mesma e com os outros – um pouco de solidão até que cai bem, eu precisava aprender.

Deixa ir toda a dor, deixa vir o mar,
eu quero colorir o mundo, quero poder vislumbrar,
as flores jovens do campo, da bela noite o luar...

Texto extraído do blog Verdade mal contada de Deyse Batista

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