sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Eu achando graça na saudade

O jeito que ele me olha é que me inspira e desgoverna. Um jeito que me conhece no derramado de dedos que convidam. De quando eu peço abraço quando ele quer me dar, mas faço tudo quase num contorcimento de dor, e ele acha bom eu ser intensa. E a voz sem sossego, o corpo pronto e quente sempre. E, se ele demorou tanto, nós sabemos: amor também precisa amadurecer ou maturar na arnica, feito remédio. Nunca tive muita impaciência na espera, ele sabe. Aí, quando eu menos esperava, ele chegou encompridando alegrias tão amenas, tão bestinhas. Fui compreendendo aquela falta de desespero. Eu achando graça na saudade. Eu perdendo o peso da lembrança só pra rir de tudo. Eu ficando leve. Eu sentindo sono logo na infância da noite. Porque meu coração estava, enfim, descansado. Eu achando bom meu coração pousar assim: decidido e destrambelhado.

Marla de Queiroz

Postagem: K. Alberti e J. Mendonça

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