quarta-feira, 28 de setembro de 2011

É uma felicidade em saber que sim é possivel esquecer e uma tristeza por ter sido tão estúpida

Na verdade, são ‘não sentimentos’ . É como quando eu era pequena, minha mãe vivia dizendo para eu não jogar bola dentro de casa . Na nossa sala, em cima da mesa, havia um vaso, uma fruteira na verdade, que ela gostava muito . Não preciso dizer que joguei bola, não preciso dizer que quebrei a tal da fruteira, não preciso dizer que ‘a chinela comeu’ . Lembro que quando isso aconteceu minha mãe não estava em casa . Até a hora dela chegar, fiquei sentindo um misto de ódio de mim mesma com ‘e agora o que eu vou fazer’ ? Agora estou sentindo esse mesmo ódio de mim . A fruteira se quebrou em mil caquinhos … Nada, nunca mais será a mesma coisa, mesmo que ‘nunca mais seja muito tempo’ . Existem coisas, sentimentos e fruteiras que não se refazem . Que não se colam . As flores morrem e não voltam . O que sinto é estranho . É uma felicidade em saber que sim é possivel esquecer e uma tristeza por ter sido tão estúpida . E um medo muito grande, porque sei que outros virão para me mostrar que continuo sendo estúpida . Queria poder arrancar meu coração do peito e colocá-lo no congelador  .‘Os homens precisam da ilusão do amor da mesma forma que precisam da ilusão de Deus . Da ilusão do amor para não afundarem no poço horrível da solidão absoluta . Da ilusão de Deus, para não se perderam no caos da desordem sem nexo’ .

Caio Fernando Abreu
Postagem: K. Alberti e J. Mendonça

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