sábado, 5 de maio de 2012

Que volte o meu menino.


“Não falo dele, não. Por que quer ouvir? Faz tempo que perdi a voz e… bom, perdi muita coisa e não é preciso que saiba. Na verdade, não gosto de contar as minhas perdas e o fato de tudo em mim girar em torno dele me irrita. E você sabe que foi ele quem deixei escapar pelo caminho e parece querer me torturar com tantas perguntas. Quer que eu diga o quê? Não, eu não quis que ele fosse, muito menos soltar sua mão. Mas tempo é tempo e passa, não há como voltar. Acha que eu já não quis? Sonho com aquele abraço toda noite, porque era o único lugar onde eu sentia que realmente tinha uma casa. O menino era minha morada e também, tudo mais. Eu o respirava, saciava a minha sede e matava a minha fome. Hoje não, hoje não respiro, tenho sede e tenho fome. Mas que eu pare de falar de mim, você perguntou dele, não é? Que mais posso dizer? Torço para que ele esteja bem e que sinta a minha falta. Porque eu… ah, não vou falar de mim. Talvez ele volte, não é? Tomara que ele encontre o caminho, tomara que ele me escute gritando seu nome, tomara que ele me sinta no vento. Quero de volta a minha casa, quero meu ar, quero botar meus pulmões para funcionar. Que volte o meu menino.”
Evelyn Cardoso, Obliterar

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